FÉ E POLÍTICA
- herdeirosdeworms
- 9 de set. de 2022
- 17 min de leitura
Atualizado: 14 de set. de 2022
"Religião, política e futebol não se discutem"
Acadêmico de Teologia - EST - Escola Superior de Teolgia Cristian Geiger

Você certamente já ouviu essa frase ou até mesmo disse ela. Não é interessante que três assuntos tão diferentes estejam envolvidos nessa frase? Isso parece mostrar que algumas pessoas colocam os três assuntos em pé de igualdade.
Mas como cristãos precisamos reconhecer que religião está absolutamente em um nível de importância maior que qualquer outra coisa. Quem é o teu Deus é o assunto mais importante da vida. Sem comparação com política ou futebol. Não é interessante também que quando discutimos futebol e política os ânimos se alteram, um quer ter mais razão que o outro e a discussão vai até para o nível da baixaria.
Mas quando discutimos religião vestimos a capa da tolerância e dizemos: “calma, calma, cada um tem o direito de crer no que quiser”. James Smith que disse: “Existe algo de político em jogo em nosso culto e algo de religioso em jogo em nossa política”. Será que não temos invertido um pouco os valores?
Então por que falar de política em um culto? Você pode até não ter pensado nisso ainda, mas a Bíblia fala muito sobre política. Nosso papel ao pregar a Bíblia é expor os seus ensinamentos é ensinar todo o conselho de Deus, como Paulo disse: "Pois não deixei de proclamar-lhes toda a vontade de Deus"; em At 20:27, ou seja, não podemos ficar escolhendo apenas aquilo que gostamos de ensinar e fechar os olhos para outros detalhes que a Bíblia tem para nos ensinar. Por esse motivo não é errado falarmos de política na pregação do culto. Errado seria defender este ou aquele candidato ou partido político. Apesar de que, preste atenção no que eu vou dizer e pense a respeito: “os assuntos não se arrependem pela pregação da palavra, as pessoas sim, pela graça de Deus podem se arrepender”.
Abraham Kuyper disse uma frase importantíssima que tem se tornado mais famosa de uns tempos pra cá: "Não há um centímetro quadrado em todo o domínio de nossa existência humana sobre o qual Cristo, que é Soberano de todos, não clama, Meu!"
Nossa tarefa é proclamar a soberania de Cristo em todas as áreas da existência humana. Inclusive a política. Então, de acordo com 2 Tm 3:16-17, a Bíblia sagrada prepara as pessoas para a justiça e para toda boa obra. Vamos lembrar o que está escrito lá? “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. 2 Timóteo 3:16,17.
A esfera pública precisa de justiça? A política é uma boa obra? Claro que sim. Essas questões de justiça e boas obras são exatamente o que significa ser sal e luz e deveriam moldar nossa conduta. Nossas boas obras têm natureza ética, isso significa que elas também têm implicações políticas. A ética ou a lei escrita no coração do homem e aplicada a vida toda fazendo diferença entre o que é moral ou imoral, o que é bom e o que é mau, forma o que somos como cristãos.
Não lidar com esses assuntos é negar a igreja a plenitude da palavra de Deus. Não pregar sobre isso pode ser considerado um pecado. Romanos 13:7 diz que devemos honrar o rei. Como esperar que saibamos sobre como honrar o rei se não nos interessarmos por política? O próprio pecado também é uma questão política. Já pensaram nisso? Porque toda vez que eu peco estou me rebelando contra o governo e a autoridade de Deus.
Então, precisamos falar sobre política em nossas igrejas e não fazer isso é pecar por deixar de pregar todo o conselho de Deus. Precisamos nos preparar para votar como um cristão que conhece a palavra de Deus. A ideia aqui é mostrar o papel do cristão na esfera política. Não esgotaremos o assunto, mas já vai dar pra termos uma boa noção de como lidar com um assunto tão complicado e ao mesmo tempo tão importante para a nossa vida, para a nossa sociedade e também importante para Deus.
Ao falar de política e fé hoje teremos que trabalhar com algumas perguntas que podem nos incomodar um pouco. Mas que podem também abrir nossa visão para além do óbvio e do comum.
Política tem a ver com o que cremos. Ou seja, como a minha crença define o que penso sobre política? O que eu creio tem a ver com o que reproduzo politicamente? O que eu creio está definindo em quem eu voto? Ou seja, a minha cosmovisão consegue englobar crença e política sem confusão mental? E o que é cosmovisão? É a nossa visão de mundo. É um conjunto de crenças que definem a maneira como a gente vê o mundo. São os óculos que nos permitem ler a vida como um todo.
É o filtro pelo qual passa todas nossas ideias. Uma cosmovisão cristã é completamente diferente de uma cosmovisão islâmica, certo? Para o cristão, pensar em termos de cosmovisão é pensar em termos bíblicos de criação, queda e redenção. Tudo o que enxergarmos neste mundo, precisa passar por esse filtro: criação, queda e redenção. Por isso desde o início é bom estabelecermos que política e governo não é algo que diz respeito apenas a este mundo caído em pecado. Nós cremos que o governo faz parte da ordem criada de Deus. É correto deduzirmos que já havia um tipo de governo no jardim do Éden por ordem de Deus para o homem dominar sobre a criação por exemplo. Mais algumas perguntas são importantes pra gente relacionar cosmovisão com política: Pode eu que possuo uma cosmovisão cristã ser a favor do aborto? Pode eu que tenho uma cosmovisão cristã e bíblica ser a favor da salvação pelas obras?
Posso eu que tenho uma cosmovisão cristã votar em um presidente que prega valores opostos aos valores cristãos? Ou pode um Cristão votar em algum candidato como se estivesse escolhendo um salvador da pátria, um messias? E mais ainda, pode alguém com uma cosmovisão cristã não dar atenção a política? O que quero dizer a nível de introdução é que não podemos fechar os olhos pra determinados assuntos achando que Deus não se importa com esses assuntos. Não podemos abraçar a visão de mundo cristã e tentar seguir o que a Bíblia diz e fechar os olhos pra alguns assuntos como política ou alguns assuntos éticos como aborto, eutanásia, pena de morte, etc...
Depois de falar sobre cosmovisão, a gente está preparado para falar sobre ideologias: Quem é mais velho deve lembrar da canção de Cazuza: “ideologia, eu quero uma pra viver”. Ideologia todo mundo tem uma, assim como cosmovisão. Porém, para o crente, é o evangelho que deve julgar todas as ideologias presentes no mundo. Muitas ideologias abraçam apenas o que interessa de determinada cosmovisão e produzem uma miscelânea de crenças. Isso a gente chama de suicídio intelectual. Eu não posso sustentar duas posições contraditórias sem cometer esse suicido intelectual.
Apenas para dar alguns exemplos de cosmovisões falhas que levam a ideologias também falhas vejam como há pessoas que estariam dispostas a morrer por uma floresta ou por uma baleia, mas que defendem o aborto. Ou como tem pessoas que valorizam a família e os conceitos tradicionais e conservadores, mas que em prol de um viés econômico capitalista estão dispostos a dissolver pequenos produtores agrícolas, por exemplo. Há aqueles que pregam os valores cristãos, mas que em alguns aspectos morais seletivos não são nada exemplares. É possível pregar a valorização da família cristã e possuir amantes?
Essas contradições nas cosmovisões e ideologias são muito comuns. E antes de julgar pense se você também não pratica esse suicídio intelectual de vez em quando. No teu dia a dia, as coisas que tu faz e fala estão de acordo com a tua cosmovisão? Ou você facilmente se adapta aos ambientes só pra ser aceito e muda de opinião sem levar em conta o todo?
Temos que entender que as ideologias são idolatrias políticas de acordo com a Bíblia. Quem sustenta uma ideologia abraça um compromisso com ela muito semelhante ao compromisso de um crente com seu Deus, mas aí é que está, a ideologia é um falso deus. Cada ideologia também carrega em si uma noção de criação, queda e principalmente de redenção, o que faz com que seja uma forma de idolatria moderna. A esquerda tenta nos salvar de um mundo capitalista e a direita tenta nos salvar de uma ameaça comunista. Sejam essas ameaças reais ou não. Apenas pra citar um exemplo.
Pergunto então: o que Deus pensa da política? Como Deus quer que eu me envolva com a política? Eu separei alguns pontos bíblicos que nos ajudam a definir o que Deus pensa da política e que nos dão diretrizes pra escolher nossos candidatos.
Para isso vamos começar com os textos de Rm 13:1-7 ; e 1 Pedro 2:13-17:
1. Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.
2. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação.
3. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela,
4. visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal.
5. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência.
6. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço.
7. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra.
Romanos 13:1-7
13. Por causa do Senhor, sujeitem-se a toda autoridade constituída entre os homens; seja ao rei, como autoridade suprema,
14. seja aos governantes, como por ele enviados para punir os que praticam o mal e honrar os que praticam o bem.
15. Pois é da vontade de Deus que, praticando o bem, vocês silenciem a ignorância dos insensatos.
16. Vivam como pessoas livres, mas não usem a liberdade como desculpa para fazer o mal; vivam como servos de Deus.
17 Tratem a todos com o devido respeito: amem os irmãos, temam a Deus e honrem o rei.
1 Pedro 2:13-17
1. A Bíblia ensina que o cidadão deve obedecer às autoridades e às leis. Este primeiro ponto é o ensino mais claro nestes textos que lemos. Nós devemos obediência não só aos que nos governam, mas a qualquer autoridade colocada sobre nós, isso inclui, polícia, professores e chefes de trabalho. A razão para os obedecermos é que a Bíblia nos garante que não há autoridade que não proceda de Deus. Toda autoridade nessa terra é delegada pelo próprio soberano Deus e devemos obedecer como se estivéssemos obedecendo ao próprio Deus. Não obedecer às autoridades, de acordo com Paulo é ir contra o próprio Deus! Fica estabelecido que por causa disso, toda autoridade irá prestar contas de seus atos ao próprio Deus.
2. Os governos foram instituídos por Deus para punir o mal e incentivar o bem. Nestes versículos vemos também dois autores bíblicos concordando a respeito de como o cristão deve se portar diante das autoridades. Os dois textos também falam sobre a obediência às leis, ou seja, o cidadão de bem é aquele que segue as leis e o cidadão mau é aquele que vai contra as leis. Mas quem define o que é bom ou mau para o cristão é Deus, é a Bíblia. Isso nos leva para os próximos pontos.
3. Deus é soberano sobre todas as nações, governos e governantes = Como lemos, Paulos diz que toda autoridade provém de Deus. O Salmo 2 também diz que Deus olha do céu os planos dos governos da terra e dá risada deles como se pudessem fazer algum plano sem levar em conta o próprio Deus. O absoluto para o cristão não é um estado, um governo ou governante, mas o próprio Deus. Isso significa que todo governo irá prestar contas de seus atos a Deus. Significa também que pela soberana mão de Deus, ele rege as nações, ele conduz os acontecimentos de acordo com um plano e um propósito maior, que é insondável por nós.
Para o cristão, o conforto diante de toda maldade e irresponsabilidade dos governantes é saber que em última instância quem governa é o Senhor.
Para o reformador Calvino, por exemplo, Deus utiliza a lei moral para governar tanto o reino espiritual quando o reino terreno. A lei moral são os comandos morais gravados por Deus na consciência de cada ser humano e resumidos nos 10 mandamentos. Tudo aquilo que deve ser aprendido com os 10 mandamentos de algum modo nos é ditado por essa lei interior gravada em todos os corações. Nas suas palavras: “Os descrentes mostram que a obra de Lei está escrita em seus corações, dando testemunho disso a consciência, e acusando-se entre si os pensamentos ou perdoando-se ante o juízo e Deus. Isso está conforme Rm 2.14. Se os descrentes têm naturalmente gravada na mente a justiça da Lei, não podemos dizer que sejam absolutamente cegos quanto ao modo como viverão. Que o reconhecimento da consciência seja suficiente para discernir entre o justo e o injusto, eliminando para os homens o pretexto da ignorância”. Isso é o que Paulo argumenta no início da carta aos Romanos. A consciência de cada ser humano possui noções de certo e errado que o compele a obedecer a deveres morais básicos, incluindo a obediência as autoridades, respeito pela vida do próximo, eliminando todo pretexto de que somos ignorantes em relação a essas coisas. Em resumo, não podemos ignorar o poder soberano de Deus ao dar aos homens noções para viver em comunidade.
4. O governo existe para servir ao povo e não o contrário. Vemos nestes textos que o governo foi colocado por Deus para guardar e proteger aqueles que procedem bem e para punir os maus. O governo é como um ministro de Deus para o nosso bem. Se procedermos bem, não há o que temer.
5. Os governos devem dividir poderes. Não há tempo pra falarmos sobre a formação política do AT, mas lá também aprendemos valores que Deus queria deixar claro: Os poderes do rei são limitados pelos poderes do profeta e dos sacerdotes. Quem traz a mensagem de Deus é o profeta, quem trata da relação de Deus com o homem era o sacerdote e não os reis de Israel, por exemplo. Somente Deus pode agrupar os poderes: “Porque o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso Rei; ele nos salvará”. Isaías 33:22
Vemos na Bíblia inúmeros exemplos onde os profetas criticavam os governos. Tantos que não é possível citar aqui. E não somente profetas criticavam o reino de Israel ou de Judá, mas também vemos Daniel em relação ao governo da babilônia e Jonas profetizando contra Nínive, por exemplo. No NT vemos a mesma coisa: João Batista, Jesus e alguns apóstolos confrontando as autoridades quando necessário, sem medo de sofrerem as punições terrenas, mas confiantes de estarem agradando a Deus. Também vemos alguns exemplos de reis querendo ocupar o lugar que pertencia somente aos sacerdotes e por causa disso foram castigados por Deus.
6. A lei é o Rei, ou seja, a lei se aplica a todos sem exceção. Governantes e governados se submetem a lei. Para o cristão, mais importante que defender o governante é defender a estrutura de governo. Por exemplo, se a estrutura de governo for boa ele sabe que o governante pode mudar de tempos em tempos e as liberdades deverão ser garantidas de igual forma. Falando em liberdades, o próximo ponto é importante.
7. Os governos devem trabalhar para proteger as liberdades.
As liberdades não dependem do estado, mas elas são anteriores ao estado. Cabe ao governo legítimo proteger as liberdades. Não cabe ao estado dar liberdades, mas garanti-las. Para o cristão, Deus é o doador de toda liberdade. Essas liberdades também vêm com limites, Pedro mesmo fala disso quando diz: não usem da liberdade como desculpa para fazer o mal. Essas liberdades e limites estão claros nos 10 mandamentos por exemplo: a mulher do próximo não é minha, as posses do próximo não são minhas. Não as posso cobiçar nem roubar do meu próximo coisa alguma. Deus deseja que protejamos aquilo que é particular de cada um.
8. Igreja e estado não devem se confundir.
A Deus o que é de Deus, a César o que é de César, palavras de Jesus. A igreja não exerce controle sobre o governo e o governo não pode exercer controle nas liberdades da igreja. Há uma separação clara entre estado e igreja, desde a prática bíblica e no Brasil nós vivemos sob o que é chamado de laicidade colaborativa. Isso significa que é previsto em constituição que o estado busque chamar as instituições religiosas para colaborar com o governo na tomada de decisões importantes por exemplo. Há muita confusão a respeito do que nós chamamos de estado laico, muitas pessoas não entendem com clareza isso. Não há tempo pra se aprofundar e há alguns bons livros sobre o assunto. Mas o que precisamos saber é: estado laico não significa estado ateu. Pelo contrário, significa que o estado não pode privilegiar apenas uma determinada crença, ele deve dar liberdade para que qualquer tipo de crença seja praticada e zelar por essa liberdade. Essa liberdade é importante pra nós porque nos permite pregar o evangelho livremente.
9. Há um espaço na Bíblia para a desobediência civil.
Quando o governo exige de nós algo que fere os valores cristãos e bíblicos, temos o dever diante de Deus de desobedecermos. Os exemplos bíblicos são vários e já citamos alguns. Outros por exemplo: as parteiras hebreias que não mataram os bebês do sexo masculino no Egito, os apóstolos no início da igreja que seguidamente eram instruídos a parar de pregar o evangelho, são alguns exemplos de desobediência de crentes na Bíblia. Nossa lealdade incontestável é somente a Deus. Devemos obedecer às autoridades, isso é ordem de Deus, mas apenas até o ponto em que essa obediência não significar desobedecer a Deus. “É preciso obedecer antes a Deus do que aos homens!” Pedro em Atos 5.29.
10. O poder não emana do povo, o poder vem de Deus. Para o cristão, Deus é o poder absoluto e soberano sobre tudo. A voz do povo não é a voz de Deus. Embora seja maravilhoso que o povo seja protagonista na escolha dos governantes, muitas vezes o povo erra. Como já errou com ditadores e com governos totalitários. Toda autoridade procede de Deus por isso o poder do povo não é absoluto. O cristão transita entre esses dois conceitos: o povo tem o poder de eleger os governos, mas é de Deus o poder absoluto. O governante é uma autoridade delegada por Deus. Isso significa que se o candidato que eu votei não se elegeu, a vontade de Deus era outra e eu devo respeito a essa autoridade elegida e colocada por Deus.
Diante dessas questões alguém pode pensar assim: “Ah, mas no AT nós temos uma teocracia, bem diferente do que temos hoje no mundo”. OK, mas os princípios permanecem mesmo diante da diferença histórica. Os valores não mudam porque Deus não muda. E como já vimos, o AT já possuía um modelo de separação dos poderes. De igual forma, os reis representavam a autoridade de Deus.
Também tem aqueles que dizem: “Política no Brasil é causa perdida”: a Bíblia nos orienta a sermos sal e luz independente das circunstâncias. Cabe a nós entender como sermos sal e luz na esfera política.
Outra coisa que podemos pensar é: “Como exigir um padrão bíblico de alguém que não é cristão”? Mas e se o cristão não fizer isso quem fará? Mesmo em meio a perseguição somos chamados a iluminar o mundo expulsando as trevas, procurando apressar a volta de Jesus, trabalhando com tudo o que é possível para trazer paz, justiça e outros valores cristãos para o mundo. Sobretudo através da pregação do evangelho que é nossa tarefa primordial.
11. Não busque salvadores da pátria, busque o reino de Deus. Governo nenhum é capaz de salvar pessoas, nem de transformá-las. Por isso devemos desconfiar de toda promessa messiânica em um governo. Quando vem um candidato prometendo consertar o passado e projetando um futuro promissor, desconfie. “Ah este candidato irá salvar o Brasil”! Não dá, o cristão não vota em personalidades, nem vota em partidos. Ele vota de acordo com a cosmovisão bíblica!
Cristo nunca fez um apelo para mudanças políticas, mesmo por meios pacíficos. Os cristãos da época da Igreja primitiva compreendiam que o maior problema do mundo era espiritual e não político, sendo que a missão prioritária da Igreja era espiritual. Eles entendiam que os resultados espirituais que queriam ver na sociedade só poderiam ser alcançados por meios espirituais e que uma reforma moral nunca viria por mudanças na lei, mas no coração e na mente das pessoas. Aqueles homens e mulheres no início da igreja perceberam que não adianta estabelecer leis que obriguem as pessoas a viver como cristãs, pois só a obra do próprio Deus poderia promover essa transformação. O poder dos cristãos não estava em protestos políticos, mas na pregação do evangelho. Por que ele é "o poder de Deus em ação para salvar todos os que creem". (Rm 1.16)
É interessante notar que os primeiros cristãos viveram sob um governo muito mais opressivo do que os sistemas políticos de nosso tempo na sociedade ocidental, e jamais tentaram formar um partido político, ou mesmo alterar as leis romanas. Pelo contrário, a estratégia era diferente: eles pregavam a palavra por onde quer que fossem (At 8.4). Na compreensão cristã, o maior bem que poderiam realizar pela participação política não se poderia comparar com o que a mensagem da salvação poderia realizar. Segundo o texto da Primeira Carta de Pedro, assim como Deus havia chamado o antigo Israel, ele havia convocado a Igreja a ser um "reino de sacerdotes" e não um "reino de ativistas políticos" (1Pe 2:9).
Embora a Igreja cristã em seu início não tivesse uma agenda política, houve a compreensão de que cada cristão pode se envolver como indivíduo, se assim for vocacionado. Há outros exemplos, no Novo Testamento, de cristãos convertidos que mantiveram seus cargos públicos, como o centurião (Mt 8.5-13), o publicano Zaqueu (Lc 19.1-10), o centurião Cornélio (At 10) e o procônsul Sérgio Paulo (At 13.4-12). Nosso campo é o mundo e nosso chamado ao domínio é mais amplo que apenas a igreja. É lá fora que somos sal e luz.
12. Os cristãos devem estar sempre prontos a agir de boa vontade para com o governo. 1. Lembre a todos que se sujeitem ao governo e às autoridades. Devem ser obedientes e sempre prontos a fazer o que é bom. 2. Não devem caluniar ninguém, mas evitar brigas. Que sejam amáveis e mostrem a todos verdadeira humildade. Tito 3:1,2 O cristão tem o dever de ser exemplar em sua vida pública. Como já falamos anteriormente, não há o que temer se fizermos o bem. E o mandato de ser bom e amar vai além do comum, se estendendo inclusive a nossos inimigos.
Deus ordenou que o povo de Israel mesmo no exílio tocasse a vida pra frente e buscasse viver em paz na cidade onde estavam. \“Procurai a paz da cidade para onde vos desterrei e orai por ela ao Senhor; porque na sua paz vós tereis paz”.( Jeremias 29:7)
Precisamos nos lembrar também que independente do candidato que se elege, esse candidato governa sobre nós com a permissão de Deus e nós devemos obediência a esse governo no que diz respeito ao que não ofender o evangelho. Por isso devemos procurar viver em paz e orar por aqueles que nos governam.
Uma forma de trabalhar essa questão de maneira coletiva é com jejuns públicos nacionais.
Abraham Lincoln emitiu um decreto promulgando um jejum nacional para que toda nação se dedicasse a oração por causa de guerras civis nos EUA. Há algumas igrejas que ainda hoje praticam jejuns anuais em seus calendários. Entre os assuntos dedicados em oração está o governo de nosso país. Não seria louvável se fizéssemos o mesmo?
13. Jesus é o rei dos reis e senhor dos senhores. Não dá pra falar de política sem falar da esperança futura do crente. Jesus é o rei que esperamos e irá governar o governo mais justo que jamais existiu. Por isso nossa esperança está em novos céus e nova terra quando seremos governados pelo próprio Deus. Os reinos deste mundo são sombras, são passageiros. A glória dos reinos do passado caiu e a única glória que será pra todo o sempre é a glória de Deus, será a glória do reino de Deus. Apocalipse diz que todas as nações e os reis da terra irão se prostrar diante do único e verdadeiro Senhor sobre tudo e todos. Nesse sentido o crente precisa se lembrar que nenhuma ideologia ou poder político pode parar o reino de Deus. Mesmo em meio a perseguição a igreja nunca deixou de avançar. 3. Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! 4. Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos. (Apocalipse 15:3,4)
Nós vivemos em uma sociedade secularizada que assumiu que o governo não tem nada a ver com Deus e pode funcionar muito bem sem ele. Isso é mentira. Sabemos que neste mundo existem muitas pessoas que que não reconhecem a Cristo como seu único e soberano Rei e Senhor. Mas Jesus deu a seus discípulos um mandato: “serão minhas testemunhas em toda parte: em Jerusalém, em toda a Judeia, em Samaria e nos lugares mais distantes da terra". (Atos 1:8)
Nosso anseio, nossa esperança deve ser por ver esse reino e logo. O cristão ama imaginar a volta de Jesus. (2 Tm 4:8)
Tem como fazer isso? Tem sim: “Visto, portanto, que tudo ao redor será destruído, a vida de vocês deve ser caracterizada por santidade e devoção, esperando o dia de Deus e já antecipando sua vinda”. (2 Pedro 3:11,12)
Vamos juntos? Muita gente acha que não há de cristão escrito sobre política e isso é um engano. Por isso que deixar aqui algumas dicas de livros que eu tive contato para produzir este material. Porém, ainda há diversos livros importantes que não estão nessa lista.
- Qual a relação do Estado e da igreja? – Sproul – Editora Fiel
- Brasil polifônico – Davi Lago – Mundo Cristão
- Visões e ilusões Políticas – David Koyzes – Editora Vida Nova
- Política Segunda a Bíblia – Wayne Grudem – Editora Vida Nova
- Economia e Política na Cosmovisão Cristã – Wayne Grudem e Barry Asmus – Editora Vida Nova
- Estado e Soberania – Herman Dooyeweerd – Editora Vida Nova
- Política e Púlpito – Jeffrey Ventrella – Editora Monergismo
- Contra a Idolatria do Estado – Franklin Ferreira – Editora Vida Nova
- A religião do bolsonarismo – Yago Martins – Editora Episteme
- Cristianismo e capitalismo – Rushdoony - Editora Monergismo
- As duas tábuas da Lei – Calvino – Editora Caridade Puritana

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