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ACERCA DA NOSSA ECUMINICIDADE


Diante dos debates atuais, os Pastores Sinodais dos Sínodos Norte Catarinense e Centro-Sul Catarinense redigiram o texto ACERCA DA NOSSA ECUMINICIDADE.


“A natureza ecumênica da IECLB se expressa pelo vínculo de fé com as igrejas no mundo

que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador”

(Constituição da IECLB, Art. 5º, § 2º).

A ecumenicidade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil não depende do vínculo ou não a determinada organização, seja CONIC, ENCRISTUS, Aliança Evangélica, Confederação Evangélica do Brasil, ou outras mais. Há inumeráveis diálogos e ações ecumênicas bilaterais, multilaterais e locais que ocorrem muito além das instâncias oficiais da Igreja e que não se vinculam a “organizações ecumênicas”. A Constituição da Igreja fala do “vínculo de fé com as igrejas no mundo...”. Em si, o caráter ecumênico da Igreja está na Palavra a anunciar e independe do vínculo a determinadas organizações.


A oração de Jesus em João 17 deixa o imperativo, sempre enfatizado na abordagem acerca dessa temática: “... a fim de que todos sejam um. E como tu, ó Pai, estás em mim e eu em ti, também eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste” (v. 21). O Apóstolo Paulo proclama: “Pois, meus irmãos, fui informado a respeito de vocês por alguns membros da casa de Cloe de que há brigas entre vocês. Refiro-me ao fato de cada um de vocês dizer: ‘Eu sou de Paulo’, ‘Eu sou de Apolo’, ‘Eu sou de Cefas’, ‘Eu sou de Cristo’. Será que Cristo está dividido? Será que Paulo foi crucificado por vocês ou será que vocês foram batizados em nome de Paulo?” (1Coríntios 1.12-13). Outros textos bíblicos que apontam para a caminhada cristã em unidade podem ser acrescentados.


As organizações ecumênicas são – ao menos deveriam ser – instrumentos para promover a unidade cristã no cumprimento da missão que está além delas próprias. E, como outras organizações e instituições, têm papéis sociais e funções históricas a cumprir. Não são eternas nem absolutas, tampouco qualquer dessas organizações pode ser tida como representante exclusiva do mandado pela unidade cristã. E, como sua missão está além delas, podem até ter sua atuação encerrada e a busca e o testemunho pela unidade cristã continuar.


Igualmente, o vínculo de nossa Igreja não pode ser exclusivamente com uma organização ecumênica, ou que cumpre uma função social em uma determinada perspectiva somente. Considerando a pluralidade de “fés” no mesmo Cristo presente no contexto brasileiro e em nossa Igreja, o testemunho pela unidade tem necessidade de abranger mais perspectivas. O exclusivismo de vínculo e em uma somente perspectiva sócio-política se contrapõe ao imperativo pela unidade cristã. Enquanto Instituição, nossa participação representativa oficial precisa ocorrer em diversas frentes ecumênicas de modo a integrar os diferentes modos de fé em Cristo. Afinal, o modo de crer em Jesus Cristo como Senhor e Salvador e dar testemunho de sua Boa Nova é multiforme e nenhum modo deveria se sobrepor ao outro, até mesmo considerando a diversidade, a funcionalidade, a equidade e complementaridade de dons (1Coríntios 12) a serviço da missão de Deus.


Assim também o mandado ecumênico tem sido experienciado de maneiras múltiplas, evidenciando que o vínculo a uma organização ecumênica nem sempre é a mais importante. Há o “ecumenismo institucional”, que caracteriza as relações entre as diferentes igrejas e, a rigor, promove colóquios e diálogos sobre questões doutrinais, como já ocorreu, sobre Batismo, Eucaristia e Ministério. Há o “ecumenismo espiritual”, que envolve preces e orações pedindo que o Espírito Santo preserve a unidade cristã, pela conversão e santidade de vida das pessoas – em toda missa ou culto pode estar presente. Há o “ecumenismo local”, “de base”, que acontece em grupos comunitários informais, grupos bíblicos, casamentos mistos, Semanas pela Unidade Cristã. Há o “ecumenismo que busca o bem social”, que atua na perspectiva da justiça e paz social, da ecologia, direitos em geral, sendo o foco a humanidade e a criação e nem sempre as igrejas ou seu envolvimento. Quer dizer, há uma diversidade de ecumenismos e persistir em apenas uma perspectiva é contrassenso.


Questão a responder é a pergunta feita em nível local, em nível comunitário, acerca da relevância que organizações ecumênicas ainda têm, uma vez que se constata o distanciamento e não coincidência de perspectivas. A voz de determinadas organizações ecumênicas não reverbera localmente ou reverbera negativamente, o que leva as ações ecumênicas locais a independer de instâncias ecumênicas superiores. Esse fato aponta claramente à necessidade de ajustamento de determinadas organizações ecumênicas, caso queiram recuperar uma relação orgânica com as comunidades eclesiais que deveriam representar para o fomento da unidade da fé cristã.


Evidente contrassenso ainda reside na questão de organizações ecumênicas se assumirem como inter-religiosas ou defenderem a inter-religiosidade. Sem dúvida, a inter-religiosidade é digna de valorização e de respeito dentro dos preceitos dos direitos individuais e coletivos de profissão de fé e de livre crença. Para tal, é fundamental que existam os devidos fóruns e espaços. Entretanto, ao se tratar de organização ecumênica delimita-se um espaço não interreligioso, mas tão somente eclesial – de organizações cristãs. A não diferenciação clara do que é o ecumenismo e o que é o inter-religioso é fator de confusão, constrangimento e tropeço para o fortalecimento da unidade cristã.


Enfim, pertencer ou não a Apolo, Cefas ou Paulo é irrelevante. O imperativo pela unidade de fé em Jesus Cristo vem da própria Palavra. E, a partir de nossa Constituição, nossa ecumenicidade é definida pelo “vínculo de fé com as igrejas no mundo que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador” e não com organizações ecumênicas.


Pastor Sinodal Claudir Burmann - Sinodo Norte Catarinense

Pastor Sinodal Joel Schlemper - Sínodo Centro-Sul Catarinense

 
 
 

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