Nota Pública da Associação Luteranos Herdeiros de Worms
referente ao Manifesto da IECLB sobre invasão em Brasília, de 09 de janeiro de 2023
Não sejais cúmplices nas obras infrutíferas das trevas. Antes, porém, reprovai-as.
(Ef.5:11)
Pois Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de amor e de equilíbrio.
(2 Timóteo 1:7)
Mas os covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os que cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos – o lugar deles será no lago de fogo que arde com enxofre. Esta é a segunda morte.
(Apocalipse 21:8)
A balança enganosa é abominação para o senhor, mas o peso justo é o seu prazer.
(Provérbios 11:1)
No domingo, dia 08 de janeiro de 2023, fomos surpreendidos por notícias de manifestações em Brasília, onde manifestantes até então acampados no QG do Exército, em Brasília, ocuparam a Praça dos Três Poderes.
O que parecia ser uma manifestação de insurgência à falta de transparência eleitoral, passou a ter episódios de violência e depredação do patrimônio público.
Na manhã do dia 09 de janeiro de 2023, segunda-feira, fomos surpreendidos com um Manifesto da IECLB sobre invasão em Brasília, em documento publicado no site oficial da IECLB www.luteranos.com.br e assinado pela Presidência da IECLB, pelo Conselho da Igreja da IECLB e pelo Colegiado de Pastoras Sinodais e Pastores Sinodais da IECLB, o que causou muita estranheza, na medida em que o episódio das manifestações seguiu madrugada de domingo adentro e a IECLB conseguiu emitir um manifesto assinado por todo o contingente acima, portanto com a aprovação de todos, em tempo recorde.
Ao mesmo tempo em que a IECLB emite o seu manifesto, o exército cumpre ordens recebidas, para isolar os acampados em frente ao QG e encaminhar todos a vários ônibus previamente preparados, dando o prazo de uma hora para que os manifestantes entrem nos ônibus, sem que ocorra confronto e sem saber para onde seriam levados.
Por surpresa, soube-se, mais tarde, que os acampados, entre os quais idosos e crianças, foram confinados na Academia da Polícia Federal, em Brasília, em condições desumanas, onde os mesmos somente receberam uma refeição no dia seguinte, no final da tarde.
O manifesto da IECLB inicia com a invocação das Senhas Diárias do dia:
“Não espalhe notícias falsas e não entre em acordo com o ímpio, para ser testemunha maldosa.”
(Êxodo 23.1)
Invocado Êxodo 23.1, temos a impressão de que não foi lido o versículo seguinte:
“Não seguirás multidão para fazeres o mal; nem numa demanda falarás, tomando parte com a maioria para torcer o direito.”
(Êxodo 23.2)
Ora, considerando a rapidez e agilidade com que a IECLB manifestou-se, sem ainda ter todas as informações sobre o cenário real em Brasília, causa espécie e muita estranheza, para não dizer da desconfiança de que este manifesto integra um movimento sincronizado com viés político-partidário, o que a Associação Luteranos Herdeiros de Worms condena veementemente, haja vista o propósito de defender uma Igreja sem partido.
No segundo parágrafo do manifesto, o documento diz:
“Como vimos, um grupo de pessoas, alimentadas por redes de ódio e insatisfeitas com o resultado democrático das últimas eleições...”
O parágrafo demonstra claramente o viés político partidário. Diversos vídeos que circulam nas redes sociais mostram que a barbárie e o vandalismo, adjetivos usados no texto do manifesto da IECLB, parecem demonstrar de forma clara que não teria ocorrido por parte dos manifestantes, mas por pessoas estranhas ao movimento conhecido como Patriotas, já que havia pessoas dentro dos espaços públicos, antes da chegada dos manifestantes.
Sabe-se que no subsolo dos três palácios (Planalto, Alvorada e Jaburu) existe uma guarda permanente com quarenta homens treinados e armados, com comunicação permanente com o QG e autoridade para pedir reforços até para batalhões, fato esse descrito com clareza pelo ex-ministro da Defesa do governo FHC, Raul Julgmann, guarda esta que estranhamente não estava de serviço naquele domingo.
No quarto parágrafo do Manifesto da IECLB, podemos ler que:
“A caminhada continua. Como pessoas cristãs, defendemos a democracia como a mais bonita e justa forma de exercício de poder. Não podemos compactuar com o uso da violência, do ódio, de armamentos, de invasão depredação do patrimônio público.”
O texto deste parágrafo deixa uma dúvida. Houve igual manifesto da IECLB por ocasião da invasão e depredação, com incêndio de diversos prédios dos ministérios do Governo Federal por cerca de cinqüenta manifestantes do MST, em 2017? Ou a Presidência da IECLB, Conselho da Igreja e Colégio de Pastoras e Pastores Sinodais da IECLB entendem que aquelas manifestações que destruíram patrimônio público foi democrática, além de tantos outros eventos de depredação por parte de manifestantes de esquerda? Da mesma forma, houve movimentos com danos ao patrimônio público em 2006, 2009, 2013, 2014 e 2017. Em 2018, a casa da Ministra Presidente do STF foi atacada pelo MST, em Belo Horizonte. Estes ataques receberam o mesmo manifesto na ocasião? Houve prisões e condenações aos responsáveis?
Estamos surpresos e admirados com a velocidade com que a Presidência da IECLB, Conselho da Igreja e Colégio de Pastoras e Pastores Sinodais da IECLB manifestaram-se contra atos de depredação por parte de algumas dezenas de pessoas, sem antes conhecer os fatos e o cenário real com que as manifestações de domingo aconteceram. Até a presente data não se tem a conclusão dos inquéritos que esclarecerão, quem sabe, se houver lisura no processo. Os fatos e apontarão os verdadeiros responsáveis.
Na manhã de segunda-feira, dia 09 de janeiro, cerca de 1200 pessoas foram cercadas no acampamento em frente ao QG do exército e encaminhadas para dezenas de ônibus, que os levaram para a Academia da Polícia Federal em Brasília. Sabe-se que, entre estas pessoas, encontravam-se idosos e crianças, confinadas em um espaço desumano, ferindo frontalmente todos os direitos humanos em uma situação que beira à tortura psicológica.
Aguardamos que a mesma rapidez, ação e unidade por parte dos que supostamente assinaram, de forma unânime, o Manifesto da IECLB sobre invasão em Brasília, também o façam em uma nota de repúdio à manutenção do que denominam de “manifestantes extremistas e antidemocratas”, em um confinamento similar a um campo de concentração, com condições precárias, acusadas unilateralmente e sentenciadas à prisão sem o direito constitucional ao contraditório e ampla defesa.
Causa estranheza e muita tristeza que a IECLB se manifeste de forma conivente e açodada a episódios que lembram os métodos utilizados pelos nazistas contra os judeus durante a II Guerra Mundial.
A IECLB que, conforme o parágrafo final do Manifesto da IECLB sobre invasão em Brasília, conclama que toda a Igreja e a sociedade se voltem para a defesa da paz, da justiça, da reconciliação, vai mesmo apoiar o uso de métodos que beiram a tortura e o totalitarismo, como fez a EKD – Evangelische Kirche in Deutschland, na ocasião, com o mesmo silêncio e omissão daquela época ou vai se manifestar contra o uso de métodos totalitários para culpar pessoas inocentes, que exerceram o direito de manifestarem-se, idosos e crianças?
Estamos no aguardo de um posicionamento da Presidência da IECLB, Conselho da Igreja e Colégio de Pastoras e Pastores Sinodais da IECLB, não de forma político-partidária, mas baseado nas Sagradas Escrituras (Sola Scriptura).
Por fim, ratificamos a posição da Associação Luteranos Herdeiros de Worms, de total oposição a qualquer manifestação que não seja exclusiva do direito à livre expressão e condenamos veementemente qualquer ato de violência e depredação de patrimônio público, independente da origem dos seus autores, e esperamos que todo o processo legal previsto em nossas leis e na constituição seja devidamente obedecido, em especial a vedação a que juízes possam instaurar inquéritos, investigar crimes e determinar busca e apreensão sem a devida representação do Ministério Público ou do delegado.
“A balança enganosa é abominação para o Senhor, mas o peso justo é o seu prazer. ”
Provérbios 11:1
Não é mais possível ficarmos calados. Aqui estamos e outra coisa não poderíamos fazer. Que Deus nos ajude, Amém!
Respeitosamente,
Petrópolis, 26 de janeiro de 2023
Associação Luteranos Herdeiros de Worms
(texto aprovado por unanimidade pela sua diretoria)
Clique aqui para baixar o arquivo PDF com o texto da Nota Pública